A primeira vez ouvi falar sobre internet foi quando meu primo passou um final de semana na casa dos meus pais no ano de 2002.
2002 foi o primeiro ano que tive um computador e eu não sabia muito bem o que fazer com aquilo apesar de ter desejado – e deixado todos em casa cientes do quanto eu desejava – muito isto, eu não sabia o que fazer com ele além das aulas introdutórias sobre o menu iniciar que tive em sala de aula de uma escola brasileira dos anos 2000. Não era lá o berço da tecnologia.
Além de passar algumas horas desenhando no Paint e algumas outras passeando entre os jogos pré-instalados do Windows 98 eu não sabia mais o que fazer com aquilo. Alguns meses depois daquele presente de natal super esperado, o computador ainda me parecia uma ferramenta fora de contexto. Afinal, falavam tanto sobre suas mil e uma utilidades, mas no fim, tudo o que eu conseguia fazer era jogar alguns joguinhos dos quais eu já estava cansado, brincar em uma louça de desenho e escolher um menu de algumas outras ferramentas que eu já tinha interagido na escola como a calculadora e o documentos de texto. Há um limite do quanto estas mesmas ferramentas podem ser divertidas, mesmo para uma criança de doze anos.
Toda noite, o computador ficava embrulhado em uma capa de plástico, mais ou menos como as de celular hoje em dia, mas sem a proteção, apenas o plástico mesmo e para computador, o que fazia muito sentido de ser usado nos anos 2000.
Computadores simplesmente não pareciam nada com o que eu imaginava que eles seriam.
Até aquele final de semana de janeiro no qual o meu primo me visitou.
Foi naquela noite de sexta feira que eu fui apresentado a Internet. Pelo menos ao conceito ilustrado pelo meu primo. Quando viu o computador, ele disse:
– E você já conectou na internet?
Eu, no auge dos meus 11 anos, disse:
– O que é internet?
Meu primo parecia não acreditar, mas estava animado com a possibilidade de falar sobre a internet com mais alguém. Ele era bem mais velho que eu, ao menos “bem mais velho” na perspectiva de uma criança de 11 anos. Meu primo tinha 14.
Após alguns minutos me contando sobre todas as possibilidades que ele conhecia da internet, desde fotos gratis de playboys de atrizes em destaque da globo no período, até o já finado mas memorável e primeiro site que visitei na internet, casa dos jogos.
Conversamos com o meu pai sobre a possibilidade dele permitir que fizéssemos a tal conexão com a internet. Meu primo explicou sobre a taxa única após a meia noite e após autorizado, esperamos ansiosamente pela bendita meia noite. Era um dia especial para mim, seja por ser a primeira vez que estaria conectado a internet quanto por ter sido um dos poucos dias da minha infância dos quais eu pude ficar acordado até tarde. Tirando datas festivas como o São João, a queima do Judas, Natal e ano novo, ficar acordado até meia noite não era algo que se podia fazer, ainda mais com a autorização do meu pai. A primeira vez que me conectei a internet foi um dia especial.
De lá para cá continuo aprendendo todo dia, um pouco mais, o que é essa tal de internet, e ao longo destes mais de 20 anos conectado a rede mundial de computadores, compartilho com você uma lista com os 5 documentários que mais me fascinaram durante este período. Boa leitura!
Hoje, entre outras coisas, sou o principal responsável pelo desenvolvimento de sites na Cacau Cria. A jornada que começou lá em 2002, com aquele computador embrulhado em plástico e a conexão discada à meia-noite, moldou minhas habilidades e minha visão sobre como a internet pode transformar vidas e negócios. Ao longo desses mais de 20 anos, essas produções audiovisuais foram fundamentais para meu aprendizado.
Espero que elas também inspirem e colaborem com a sua jornada:
1. O Garoto da Internet: A História de Aaron Swartz (2014)
Direção: Brian Knappenberger
Quando penso na era de ouro da internet como uma plataforma de colaboração e liberdade, não consigo deixar de lembrar de Aaron Swartz. Ele acreditava em um mundo onde o conhecimento deveria ser livre, acessível a todos. Este documentário narra a brilhante, mas trágica, trajetória de Swartz, um prodígio da programação e ativista digital que cofundou o Reddit e contribuiu para a criação do RSS. Sua luta pela liberdade de informação e as consequências devastadoras dessa batalha são um lembrete de como a internet pode ser tanto uma ferramenta de empoderamento quanto um campo de disputa entre liberdade e controle.
2. We Are Legion: The Story of the Hacktivists (2012)
Direção: Brian Knappenberger
No início dos anos 2000, a internet era um território inexplorado para muitos, mas alguns grupos já estavam moldando sua cultura. Este documentário explora a ascensão do Anonymous, um coletivo de hackers ativistas que usaram a internet para desafiar instituições poderosas e lutar contra injustiças sociais. O filme mostra como a internet se tornou um espaço para ação política e questiona até onde é ético usar ferramentas digitais como forma de protesto.
3. Downloaded (2013)
Direção: Alex Winter
Antes do Spotify e do YouTube, houve o Napster. Este documentário nos leva de volta à época em que a música começou a ser compartilhada na internet de forma gratuita, revolucionando a indústria fonográfica e nossa relação com o conteúdo digital. O Napster simboliza uma virada de chave na história da internet: a transição de um espaço de curiosidade e colaboração para um campo de disputas entre criadores, consumidores e grandes corporações.
4. Lo and Behold: Reveries of the Connected World (2016)
Direção: Werner Herzog
A visão de Werner Herzog sobre a internet é, no mínimo, fascinante. Este documentário explora não apenas a história da internet, mas também as implicações filosóficas e sociais de viver em um mundo cada vez mais conectado. De robôs que jogam futebol a histórias comoventes sobre vítimas de cyberbullying, Herzog nos convida a refletir sobre como estamos moldando – e sendo moldados – pela tecnologia.
5. The Social Dilemma (2020)
Direção: Jeff Orlowski
Fechando a lista com um dos documentários mais impactantes dos últimos anos, The Social Dilemma nos faz questionar até onde as redes sociais estão realmente a nosso favor. Com depoimentos de ex-funcionários de grandes empresas de tecnologia, como Facebook, Google e Twitter, o filme escancara as estratégias usadas para nos viciar em aplicativos e explorar nossos dados. É um alerta poderoso sobre os riscos de um mundo digital que prioriza o lucro acima de tudo.
E então, o que achou da lista? Deixe um comentário e compartilhe com mais gente.
Quando mais pessoas aprenderem sobre internet, mais perto estaremos de construir um país com mais oportunidade digital para todos.
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